O Conceito de Inveja na Psicologia: A Diferença Crucial entre Inveja e Admiração
Confesse: você já sentiu inveja. Isso não é uma pergunta, é sim uma afirmação.
E certamente também foi alvo de inveja. Sentir inveja e ser alvo dela nunca é confortável, afinal, quando sentimos inveja, estamos diante de um sentimento de desvantagem perante alguém, e quando somos alvo de inveja, estamos correndo algum grau de perigo.
Sentir inveja é normal, afinal, não tem nada de errado nisso, desde que mantenhamos o bom comportamento e as boas atitudes e usemos isso para nossa evolução, jamais para prejudicar alguém.
Mas ser alvo de inveja já é outra história, que exige muito da nossa capacidade de discernimento para saber se não estamos ostentando de propósito coisas que possam inferiorizar pessoas, e, além disso, se esse destaque não pode nos trazer algum prejuízo
É comum que o conceito de inveja seja usado inadvertidamente, muitas vezes confundido com admiração. No entanto, a Psicologia explica que são sentimentos distintos, e ignorar essa diferença pode trazer prejuízos tanto para quem sente quanto para quem é alvo da inveja alheia.
Inveja: O Sentimento que Significa "Não Ver"
A etimologia da palavra inveja remonta aos étimos latinos in (dentro de) + videre (olhar). Essa formação alude a um "olhar mau que penetra no outro" e a um desejo de desviar a atenção daquilo que incomoda. Essa percepção se manifesta em expressões populares como "mau olhado" ou "olho grande".
Trata-se de um sentimento arcaico que remete à **falta de algo que o outro tem e nós não temos**, podendo ser:
- Latente: Quando o indivíduo percebe a desvantagem e desenvolve mecanismos para lidar com ela.
- Manifesta: Quando a emoção se torna clara e direciona o comportamento.
O Desejo de Destruição e as Defesas Invejosas
A característica central da inveja, que a distingue da admiração, é o desejo de destruição do objeto (ou da representação do objeto) que provoca o incômodo. O objetivo é eliminar o parâmetro de comparação para que a dor da falta desapareça.
Como não é possível destruir o objeto de forma objetiva, o invejoso o faz de forma subjetiva, através de mecanismos de defesa:
- Negação: Ao perceber a conquista alheia, o indivíduo desvaloriza o benefício ou nega o quanto gostaria de estar naquele lugar. Ex: "Eu não queria mesmo..." ou "Nem reparei que você tingiu o cabelo."
- Racionalização e Minimização do Mérito: O invejoso busca explicações racionais para fugir da emoção negativa, diminuindo o mérito do outro. Ex: “Claro que ela tirou notas boas. Passou a noite inteira estudando. Não fez mais do que obrigação”.
Inveja Branca vs. Admiração: O Ponto de Virada
O que popularmente chamamos de **"inveja branca"** não é inveja no sentido psicológico, mas sim admiração. A diferença básica é fundamental:
Na admiração, não há desejo de destruição do outro. Existe, sim, uma tendência à imitação. Se essa imitação for desmedida, pode se tornar prejudicial (um "roubo de identidade"), mas o impulso destrutivo está ausente.
Onde Nasce a Inveja na Psique
A psicanalista Melanie Klein (1991) aponta que a inveja é uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento, ligada ao sentimento de **frustração**. A frustração é a raiva oriunda da ausência de gratificação, ou seja, o desejo por algo inacessível em um dado momento. Este sentimento primitivo pode evoluir para a inveja destrutiva na vida adulta.
Cuidado: Posição de Objeto de Inveja
Uma forma de manifestação da inveja, por vezes inconsciente, é a tendência de alguns indivíduos se colocarem na **posição de objeto de inveja**. Essas pessoas, geralmente, têm dificuldades em reconhecer suas próprias limitações e passam a viver em um mundo imaginário de superioridade, acreditando que os outros as perseguem por inveja, quando na verdade, não conseguem lidar com seus próprios conflitos.
Referência:
FIGUEIREDO, Maria Flávia; FERREIRA, Luis Antonio. Olhos de Caim: a inveja sob as lentes da linguística e da psicanálise. Sentidos em movimento: identidade e argumentação. Coleção Mestrado em Lingüística. 2011.
Escrito por: Psicóloga SP Maristela Vallim Botari
Maristela Vallim Botari (CRP/SP 06-121677) é uma psicóloga clínica dedicada ao acolhimento humanizado, com mais de 12 anos de experiência em psicoterapia individual e de casal. Sua prática é focada em ajudar indivíduos a superar desafios emocionais, como ansiedade, depressão e dificuldades de relacionamento, utilizando abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
Atende de forma presencial em seu consultório na Av. Paulista, 2001 – São Paulo/SP, e oferece consultas com Psicóloga Online para todo o Brasil.
Como a Psicóloga Sp pode me ajudar?
Gostou do artigo? Leia mais no Blog da Psicóloga

0 Comentários