Psicóloga SP
É normal evitar envolvimento emocional?
Tenho notado que algumas pessoas vem apresentando enorme dificuldade em encontrar alguém para confiar e desta forma, estabelecer uma relação saudável.
Zigmunt Bauman em 1999 falou sobre a fragilidade dos laços Humanos na sua Obra "
Amor Líquido", que eu sempre recomendo aos meus pacientes que leiam.
Basicamente, a obra trata da maneira superficial como as relações amorosas são estabelecidas na atualidade e além disso, articula sua concepção de Amor Líquido com osurgimento das tecnologias, que deveriam servir para melhorar a comunicação, e no entanto, tem servido também para isolar as pessoas em seus micro-mundos.
O mundo está mudando numa rapidez vertiginosa, levando a pessoas a se preocuparem com seu bem estar material, antes do afetivo-emocional.
Mesmo quando perguntamos o que as pessoas esperam em seus relacionamentos, a resposta em geral, apresenta um viés materialista: as pessoas procuram por pessoas que agregue algo, mas que possa se sustentar.
O avanço das tecnologias, que proporcionou o surgimento das redes de relacionamento, trouxe justamente a possibilidade de escolher pessoas pelo perfil, o que já limita bastante as escolhas.
Mesmo quando se conhece alguém fora das redes sociais, é comum verificar se o "nível" do outro é compatível, pois ninguém quer correr o risco de se relacionar com o diferente.
Porque as pessoas evitam os envolvimentos emocionais?
Em geral, porque não querem cobranças, nem compromissos. Querem ser livres para ir e vir quando bem entenderem, e "ficar" com várias pessoas ao mesmo tempo, pois a oferta de pessoas disponíveis para relacionamentos abertos é bem ampla, tanto entre homens, quanto em mulheres.
Algumas pessoas desejam-se umas às outras: desejam o corpo do outro, o status quo, a posição social ou profissional, o poder aquisitivo. Infelizmente este desejo não se transforma em amor, porque existe uma blindagem contra o apego pairando no ar.
Esta blindagem se justifica, em especial pelo medo de lidar com o sofrimento, e a falta de recursos emocionais para superá-los.
Vivemos em um momento sócio-histórico onde toda dor parece que deve ser suprimida. O momento exige diversão, alegria a qualquer custo, muito prazer com o mínimo de investimento.
Não fomos programados para lidar com situações adversas, nem com perdas, ou derrotas. Fomos ensinados a acreditar que finais felizes existem e que sofrer nos torna perdedores. Temos baixa resistência à frustração.
Mas existe esperança: se os indivíduos aprenderem que apara amar é preciso doar algo de si, e ampliar a capacidade de tolerância, aumentar o nível de respeito pelas diferenças, certamente existirá a possibilidade de vivenciar relações afetivas de bastante qualidade.
0 Comentários