Você já experimentou a sensação de solidão?
Aquela sensação de que não há ninguém ao seu redor que possa compreendê-lo, apoiá-lo ou amá-lo?
Se já sentiu isso, saiba que você faz parte do mundo das pessoas solitárias, um "planeta" habitado por indivíduos que têm dificuldade em se conectar com os outros, geralmente devido à falta de afinidade, e não à falta de companhia.
É importante lembrar que a solidão pode ser uma experiência diferente para cada indivíduo e que há diferenças entre estar sozinho e sentir solidão crônica e negativa.
A solidão tem uma irmã gêmea: a liberdade.
Embora muitas pessoas encontrem a solidão como um sentimento negativo, há também benefícios em estar sozinho.
Storr (2011) salienta que a capacidade de ficar sozinho está ligada à descoberta e à realização de si, à conscientização de nossos mais profundos sentimentos, impulsos e necessidades.
Para o autor, tal conscientização na presença dos outros é impossível, pois eles nos roubam de nós mesmos, obrigando-nos a usar máscaras sociais com a finalidade de obter aceitação social.
Algumas das vantagens da solidão incluem:
Autoconhecimento: A solidão pode permitir que você reflita sobre si mesmo, seus valores e objetivos, e ajuda a descobrir coisas novas sobre si mesmo. Isso pode levar a um maior autoconhecimento e autoconsciência.
Criatividade: Quando estamos sozinhos, temos a oportunidade de deixar nossa mente vagar e explorar ideias criativas sem distrações externas. Muitos artistas, escritores e músicos encontram a inspiração na solidão.
Descanso mental: A solidão pode oferecer uma pausa da estimulação constante do mundo exterior e nos permitir desacelerar. Isso pode ajudar a reduzir o estresse, a ansiedade e a fadiga mental.
Independência: A solidão pode ensinar a tomar decisões por conta própria e a se tornar mais auto-suficiente. Isso pode levar a uma maior independência emocional e confiança em si mesmo.
Espiritualidade: Algumas pessoas encontram na solidão uma oportunidade para se conectar com sua espiritualidade ou religião, meditar, ou simplesmente se reconectar consigo mesmos.
Encontrar um equilíbrio saudável entre o tempo sozinho e as conexões sociais é essencial para a saúde mental e emocional.
O Lado ruim da Solidão
A solidão crônica é um estado persistente de solidão que pode durar meses ou até anos.
É um sentimento constante de isolamento e desconexão dos outros, mesmo quando estamos cercados por pessoas.
A solidão crônica pode afetar a saúde física e mental de uma pessoa, aumentando o risco de depressão, ansiedade, doenças cardiovasculares, e diminuindo a qualidade do sono.
Quando alguém experimenta solidão crônica, pode sentir que não tem ninguém em quem confiar, o que pode levar à falta de apoio emocional e social.
A falta de conexão social pode levar à falta de motivação, redução da autoestima e sentimentos de desesperança.
Além disso, a solidão crônica pode afetar a cognição, reduzindo a capacidade de atenção e a memória de curto prazo.
A solidão crônica também pode ter efeitos físicos.
Por exemplo, estudos sugerem que a solidão crônica pode levar a um maior risco de doenças cardiovasculares, como pressão alta, aumento do colesterol, obesidade e diabetes.
Para superar a solidão crônica, pode ser necessário buscar ajuda profissional, como aconselhamento ou terapia.
É importante também tentar estabelecer conexões sociais positivas, como se envolver em atividades em grupo, voluntariado, fazer novos amigos, ou se reconectar com amigos antigos.
A solidão crônica pode ser um problema difícil de superar, mas é possível encontrar uma conexão significativa e acabar com a sensação de isolamento constante.
Como surge a solidão?
O sentimento de solidão surge quando uma pessoa tem dificuldade em encontrar alguém com quem possa compartilhar momentos e experiências, sejam eles bons ou ruins.
Nas sociedades ocidentais, onde o capitalismo selvagem prevalece, a vida em sociedade é marcada pela competitividade.
Essa forma de relacionamento individualista foi reforçada pelo liberalismo que surgiu com a Revolução Industrial do século XVIII, que recompensava a produção individual em detrimento da produção coletiva.
Com a expansão do capitalismo nos países ocidentais, essa forma de relacionamento passou a ser vivida como algo natural e se estendeu para além das relações de trabalho, invadindo as relações mais íntimas.
As pessoas passaram a trabalhar mais e a se relacionar menos, compensando essa inversão consumindo mais e dando presentes cada vez mais modernos a seus entes queridos, deixando de lado a capacidade de interação.
Em vez de trocar sorrisos, abraços e beijos, trocam-se presentes, ofensas e agressões.
A mediação de bens de consumo nas relações interpessoais pode fazer com que as pessoas se esqueçam do verdadeiro sentido da relação.
Estamos tão acostumados a viver em uma sociedade competitiva que, em certos momentos, começamos a competir com nossos entes queridos ou a escolher nos relacionar apenas com pessoas "do mesmo nível" intelectual, social, etário, étnico, etc., o que supostamente permitiria um relacionamento mais estável.
No entanto, isso limita bastante as escolhas de parceiros, seja no âmbito profissional, acadêmico, afetivo ou familiar.
Ao escolher relacionar-se com alguém com base em detalhes minuciosamente observados, é possível fechar-se para outras possibilidades e, consequentemente, sentir o inevitável sentimento de solidão.
É quase impossível manter uma relação (seja lá de que nível for) com alguém que atenda todas as expectativas, afinal, "defeitos e qualidades todo mundo tem".
Por isso, é importante rever certos conceitos antes, durante e depois de alguns relacionamentos.
Será que é realmente importante relacionar-se apenas com pessoas "iguais" (pares)? O que pesa mais na hora de escolher as amizades? O que a pessoa tem ou o que ela é?
O excesso de seletividade às vezes atrapalha na hora de se relacionar, pois nesses casos a tendência é focalizar os defeitos e não as qualidades do outro.
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