Até quando devo perdoar?
Até o seu limite particular.
Maria sempre teve uma relação conturbada com seus pais. Desde pequena, ela se sentia negligenciada e não amada. Mesmo depois de adulta, a situação não melhorou e Maria ainda sentia uma enorme raiva e ressentimento em relação aos seus pais.
Ela se perguntava constantemente: "Como posso perdoá-los por todo o mal que me causaram?". Foi nesse momento que Maria decidiu buscar ajuda com uma psicóloga.
A psicóloga trabalhou com Maria para ajudá-la a entender que o perdão não é sobre esquecer o que aconteceu ou desculpar o comportamento abusivo de seus pais. Em vez disso, é sobre libertar-se do ódio e da raiva que estão afetando negativamente sua vida.
Com a orientação da psicóloga, Maria aprendeu a perdoar seus pais e a entender que o perdão é um processo que leva tempo e esforço. Ela finalmente se libertou do peso emocional e encontrou paz e felicidade em sua vida.
Maria percebeu que o perdão não é um sinal de fraqueza, mas de coragem e força interior. Através da psicoterapia, ela encontrou a força para perdoar seus pais e seguir em frente com uma vida mais leve e feliz.
Qual é o Limite do Perdão?
Perdoar é um ato complexo que envolve diversas nuances e considerações. O limite do perdão é alcançado quando não compromete seu bem-estar emocional e mental. Isso significa que você não deve se prejudicar ou se submeter a situações que possam causar mais danos à sua saúde mental e emocional.
Além disso, é importante estar atento ao ponto em que a ansiedade gerada pelo processo de perdão se transforma em um transtorno ou obsessão, afetando negativamente sua qualidade de vida e funcionamento cotidiano.
No entanto, é crucial considerar as qualidades positivas do relacionamento ao decidir perdoar. Muitas vezes, podemos perder oportunidades valiosas ao descartar um relacionamento significativo por causa de um erro cometido, especialmente se o erro foi um incidente isolado e não reflete o caráter geral da pessoa.
Por outro lado, perdoar não significa abrir mão do senso crítico. É fundamental avaliar de forma objetiva se o perdão é genuinamente benéfico e construtivo para ambas as partes envolvidas, e estar preparado para estabelecer limites saudáveis para prevenir a repetição de comportamentos prejudiciais no futuro.
O que é perdão?
Etimologicamente, o verbo perdoar tem origem no verbo perdonare do latim vulgar. De acordo com o Glossarium Mediae et Infimae Latinitatis, o verbo perdonare tinha vários significados, mas um dos principais era conceder ou dar (Santana & Lopes, 2012). Nesse contexto, o perdão é entendido como uma concessão feita ao ofensor. Essa concessão pode ser material ou subjetiva.
A concessão material envolve não cobrar uma dívida, não destruir um bem ou não reaver um objeto roubado. A concessão subjetiva, por sua vez, envolve não retaliar uma ofensa ou agressão e não agir da mesma forma que o ofensor agiu.
É importante notar que o perdão psicológico não implica em esquecer as ofensas, como se elas nunca tivessem acontecido. Na verdade, o nosso cérebro registra automaticamente todas as experiências negativas que vivenciamos ao longo da vida para nos proteger no futuro, o que é um instinto de sobrevivência. Perdoar não significa que você deva conviver com o agressor como se nada tivesse acontecido, já que algo aconteceu e isso é registrado em nossa mente. Perdoar significa que você pode, deve ou quer dar uma nova chance para que aquela pessoa que lhe magoou possa se redimir, apesar das circunstâncias.
O modelo de perdão interpessoal proposto por Enright:
Fase de descoberta:
Examinar as defesas psicológicas.
Enfrentar a raiva e liberá-la, não alimentá-la.
Admitir a vergonha, quando apropriado.
Consciência da catexia, ou seja, estar ciente de que a mágoa está drenando suas energias.
Consciência do ensaio psicológico da ofensa (ou ruminação da ofensa).
Compreender que a vítima pode estar comparando sua situação com a do ofensor.
Reconhecer que a ofensa pode causar mudanças adversas e permanentes em si mesmo.
Compreender que é possível alterar a visão de mundo naquele momento em relação à situação de mágoa.
Fase de decisão:
Novos insights sobre o fato de que as estratégias para lidar com a ofensa e a dor relacionada não estão sendo eficazes.
Estar disposto a considerar o perdão como uma opção.
Comprometer-se a perdoar o ofensor.
Fase de trabalho:
Reframing, em que a vítima se esforça para perceber o ofensor de maneira contextualizada (ampliando sua percepção da situação de ofensa).
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