As vezes, basta um olhar, uma troca de palavras, um toque, um gesto... e os "corações" pegam fogo.
A palavra "coração" foi colocada entre aspas propositalmente, pois a paixão não começa no coração, e sim, no cérebro.
Os sintomas clássicos da paixão
São resultantes de combinações químicas que ocorrem em algumas regiões do cérebro.(taquicardia, respiração curta, dilatação da pupila, etc).
Quando um "certo alguém" cruza teu caminho, os centros da recompensa do cérebro intensificam a produção de dopamina, substância responsável pelo bem estar emocional, favorecendo os comportamentos de aproximação.
A química da paixão
Nesta fase é comum que as pessoas façam mudanças sutis ou radicais na aparência, mudem alguns hábitos ou mesmo que fiquem mais distraídas.
- O efeito da dopamina no cérebro é o mesmo da cocaína: provoca bem estar e quando não está disponível, provoca crise de abstinência, por isso que o contato com a pessoa amada produz sensação de bem estar.
- A produção de feniletilamina, contribui para a formação de novas memórias e isto faz com que os apaixonados se recordem de detalhes minúsculos.
- A produção de oxitocina (nas mulheres) e vasopressina (nos homens), favorece a criação de um vínculo mais sólido e duradouro, levando os apaixonados a desenvolverem comportamento de aproximação.
- Em contrapartida, há uma redução na produção de serotonina, o hormônio responsável por reduzir os níveis de estresse. Por conta disso, as pessoas apaixonadas tendem a apresentar ansiedade acima da sua média, nos primeiros meses, desenvolvendo pensamentos obsessivos e ideias compulsivas, como no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
- A testosterona também esta nos dois organismos, porém é menor nas mulheres. Seu efeito é notado pelo aumento da libido na mulheres e sua queda provoca menos agressividade nos homens.
Por conta destas tempestades hormonais, as pessoas enamoradas se arrumam mais, se perfumam, emagrecem, procuram se aproximar de seu objeto de desejo de todas as formas.
Consequências da paixão
Este processo de apaixonamento costuma levar as pessoas à loucura, pois com a perda parcial do senso crítico há uma tendência à distorção dos fatos. Os apaixonados tendem a interpretar de forma ampliada os estímulos que se referem ao parceiro afetivo e minimizar os que exigem o uso da lógica.
Na prática isto pode significar crises de ciúme, possessividade, vinculação excessiva, exclusivismo, dominação, dentre outros comportamentos inadequados.
O processo de vínculo
E isto porque, segundo Fisher (2004) o comportamento do parceiro afeta diretamente seu par. E quando algo nos afeta, formamos um vínculo em maior ou menos escala (afeto significa afetar, impactar, causar alguma reação em algo ou alguém).
Fisher também salienta que há uma tendência à empatia mútua: é muito frequente que um dos parceiros "sinta" o que o outro sente. isto ocorre porque algumas partes do cérebro (responsáveis pela formação e manutenção do vínculo) estão hiperativas. Dentre estas áreas, podemos citar: o sistema límbico (circuito de Papez), o hipotálamo.
A Paixão no cérebro
As regiões cerebrais responsável pelo alertas e medo e o córtex cingulado, responsável pelo senso crítico, estão parcialmente desligadas na paixão, e isto leva alguns apaixonados a se envolverem em comportamentos de risco. Gastar excessivamente para agradar o parceiro, sem temer o que pode acontecer pode ser um clássico exemplo!!
Fazendo uma triste analogia: os casais apaixonados se comportam de forma próxima aos dependentes químicos, que sentem prazer ao entrar em contato com o objeto da sua dependência, e sensação de abstinência quando o objeto está ausente. No caso dos apaixonados, esta abstinência pode ser comparada àquela saudade enorme que bate quinze minutos depois que o parceiro vai para sua casa.
Prazo de validade da paixão.
Fisher aponta que este apaixonamento é um estado transitório que dura de 12 a 24 meses, tempo suficiente para que os pares se conheçam, e que esta vinculação se transforme em amor".
Em alguns casos, a vinculação acaba cedo demais em um dos pares, deixando o outro numa situação de insegurança. Nesta fase, as características negativas do outro tendem a aparecer, e isto pode assumir uma forma de desvinculação.
Quando isto ocorre, é importante ter clareza sobre o que está acontecendo, assumindo que se a paixão acabou unilateralmente, pouco poderá ser feito para reverter, pois como foi dito, trata-se de um processo biológico.
Se sobraram bons sentimentos como a admiração, o companheirismo, a intimidade, o comprometimento, é possível contornar esta situação e viver uma relação saudável e duradoura.
Se não sobrou anda além do desrespeito, da exploração, da deslealdade, é hora de pensar se vale a pena investir no resgate desta relação. As vezes o recomeço pode ser mais produtivo e menos desgastante emocionalmente.
Diferenças entre homens e mulheres
Alguns estudos apontam que a paixão tende a ser mais intensa nos homens, que nas mulheres. Nos homens a paixão em geral é mais intensa e fulminante, porém pode durar pouco; na mulheres ao contrário pode durar mais tempo, embora leve mais tempo para se instalar.
Mas isto nem sempre seja percebido de forma observável, pois algumas pessoas conseguem disfarçar esta tempestade hormonal por meio de "atitudes bem comportadas" .
Referências:
FISHER, Helen. Porque Amamos. a natureza e a química do amor romântico. Buenos Aires; 2004.
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